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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

dÁ LiCeNsA eU vOu SuRtAr

Por Antonia Pellegrino, 30 anos, roteirista e escritora

Eu gosto de acordar cedo em dias de semana. E durmo cedo à noite. E acordo e passo protetor solar e centrifugo um suco que leva cenoura, beterraba, maçã, laranja, gengibre e couve. E nado e faço ioga e tenho uma horta em casa. E faço a cama e lavo a louça e tenho dois gatos e limpo a merda deles diariamente. E trabalho de domingo a domingo. E pago meus impostos. E sou (excelente) dona de casa. E não abuso de fritura nem de refrigerante. E cuido do meu marido, dos meus amigos, da minha família. E o mínimo que eu posso fazer pra equilibrar a minha economia existencial é surtar, pelo menos, de 15 em 15 dias. “Go get lost”, sair de mim para poder voltar a mim. Sem o surto, eu estaria doente, seria uma louca, uma chata, uma vândala, uma assassina. O surto é o equilíbrio. E, no entanto, cada vez menos é possível surtar. Porque a gente vive em um mundo que herdou as liberdades conquistadas no século 20, mas escolheu viver no politicamente correto. Chaaaato. E ainda controlados por câmeras! Cada vez mais atravessados por redes de sociabilidade que não te permitem sumir da rede – como no caso Belchior. Em uma sociedade pouco experimental, da eficiência, do resultado, da performance. Fica todo mundo no salto, no carão, tomando tarja preta pra ver se não desaba. Um mundo que não tem vergonha de alardear que ser livre é escolher entre duas operadoras de celular… Um mundo que às vezes parece um resto de mundo.
Mas, ainda assim, existe o Carnaval. Aquela época em que o povo que consegue não surtar o ano todo resolve soltar os bichos. É aquela época em que o povo que surta às vezes sobe para a montanha e fica curtindo certa calmaria, depois volta queimado de sol e surta na quarta de cinzas. Mas, este ano, até o Carnaval foi controlado por câmeras que vigiavam os blocos de rua e exibiam as imagens nos sites e até no Jornal Nacional. Uma mulher dançando sozinha na rua virou manchete: “Mulher paga mico em Salvador”. É Carnaval, a mulher estava bêbada, dançando, sozinha, qual o problema? Por que isso é pagar mico?
Isso é liberdade, isso é alegria, isso é não ligar para o que os outros vão dizer, isso é gostar de si. Isso é saúde.
Já não basta ter que fazer a unha toda semana? Ter que almejar a barriga sarada da rainha de bateria – que pagou R$ 150 mil para ficar daquele jeito, mas a gente nunca pensa nisso na hora de se comparar? Já não basta viver em cidades caóticas e subdesenvolvidas que oferecem uma qualidade de vida porcaria, mas são caras como Londres? Já não basta a Madonna arrecadando dinheiro no nosso país para uma ONG que divulga a cabala sabe-Deus-onde enquanto um monte de crianças brasileiras cheira crack na nossa esquina? Já não basta o assalto à mão armada? O povo roubando em Brasília? O politicamente correto? As drogas não terem qualidade e os fumantes fumarem espremidos fora do restaurante? Já não basta? Chega. Dá licença, eu vou surtar!
aqui

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"Solta a línguaaaa!" kkk